quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Casamento de Rachel mostra deslocamento de ex-viciada

É de deslocamento que nos fala Jonathan Demme em O casamento de Rachel. Porque é assim que Kym, personagem de Anne Hathaway (indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel) se sente durante grande parte do filme. Kym volta para casa bem a tempo do casamento da irmã, Rachel. O problema é que ela não estava de férias, mas sim internada em uma clínica de reabilitação.

A partir daí, a câmera de Jonathan Demme (que evoca uma câmera caseira, como se víssemos um vídeo de casamento) e os olhos de todos se voltam para Kym. Logo quando ela chega em casa, alguém a reconhece e pergunta se ela não tem “unzinho” pra arrumar. Assim como acontece com ex-detentos, é difícil se livrar da fama de junkie, mesmo para quem está limpo como Kym.

Mas aos poucos o castelo de cartas da família vai caindo, e vemos que não é só no personagem de Hathaway que se concentram os problemas. Se ela é a ovelha negra, o resto do rebanho não é tão branquinho como parece. O pai se preocupa de maneira obsessiva com a filha, a irmã só se preocupa com o casamento, a mãe (divorciada) é ausente, etc.

Assim como em O silêncio dos inocentes e Filadélfia, filmes mais conhecidos de Demme, o protagonista é uma outsider, uma deslocada, uma gauche. Ela simplesmente não se encaixa no meio em que vive. Não por acaso, um dos poucos com quem consegue estabelecer uma relação é com o padrinho, que por acaso faz parte do mesmo grupo de reabilitação que frequenta.

Em muitos aspectos O Casamento de Rachel lembra Feliz Natal, de Selton Mello, que por sua vez lembra os filmes de Cassavetes. Um ente problemático que retorna ao lar, para uma família que, por trás das aparências, também desmorona.

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