segunda-feira, 11 de maio de 2009

Madrugada dos Vivos

A madrugada é dos vivos. Não há zumbis na madrugada. O bar fecha cedo. Os tempos são outros, tempos obscuros. O jeito é ir embora, encarar a noite alta. Alto. O caminho de volta é tortuoso, depois de horas. Como num filme de Scorsese. O ônibus passa correndo, o jeito é correr atrás. Não sem antes discutir. Não há tempo para assaltos, é preciso alcançar o ônibus que parou no sinal. Ele não vai parar, ele avisa. Eu vou correr atrás de você, ameaça. Tarde demais. A madrugada é dos vivos. Não se pode ficar para trás.

O ônibus não vai muito longe. É preciso pegar outro. Pegar mas não pagar. O crédito acabou. O jeito é mergulhar, como tantas vezes antes. O travesti caminha pela rua ajeitando os peitos. Orgulhoso. O posto é o último refúgio. Uma última cerveja, é tudo o que pede a noite. Mas outros também pedem. O japonês bem vestido e tatuado pede um refrigerante. A voz entrega que não é disso que precisa. Um cara passa correndo. Como se não houvesse amanhã. Segundos depois outro corre atrás. Não existem zumbis na madrugada. Ela é dos vivos, e é preciso correr.

Dois moleques estão felizes. Enganaram um viado. Que queria uma chupada. Viado e pedófilo. Vinte reais mais pobre. Não se pode bobear na madrugada. Um mendigo canta Zeca. Mas de um jeito bem Bezerra. Não há couvert para ele. Ninguém pede bis. É preciso ir embora.